Filmes como AVATAR me fazem repensar e rever as minhas escolhas, princípios e atitudes… Enfim, tudo o que me trouxe até aqui, hoje. A mensagem que ele nos traz é clara e imediata. Na natureza, tudo que nasce, vive e morre, para a terra há de voltar, respeitando o equilíbrio da vida. No entanto, nossos recursos naturais estão sendo depredados, destruídos e esgotados, sem que sejam respeitados os seus ciclos naturais, sua renovação. Mas o mal que o homem traz à sua mãe natureza há de se voltar contra ele. Isso é para mim, tão certo quanto a morte.
Na verdade, posso dizer que saí atônita da sala de cinema. Obviamente a floresta alimenta em algumas pessoas uma imagem um tanto quanto idílica (paradisíaca). Mas Avatar soube equilibrar essa imagem, contrapondo a beleza e misticidade da floresta, não deixando de lado sua força e ferocidade. Muitos colonizadores, relataram as florestas do Brasil como verdadeiros infernos, onde bolas de carrapatos e vespas caíam sobre eles e as onças, chamadas na época de tigres, causavam verdadeiro terror nas aldeias, predando pessoas e os animais domésticos.
Mas como então outras sociedades viveram por tanto tempo em harmonia e foram tão bem-sucedidas neste vasto oceano verde, hoje ameçado?
Na floresta se vivia, agia e pensava como seres da natureza, na natureza. Seus sentidos e habilidades eram voltados para obter água, alimento e se defender de predadores. Os conhecimentos adquiridos na floresta culminavam em reflexão e respeito sobre o meio-ambiente. A caça, era sagrada, um alimento sadio para a sustentação do corpo e fortalecimento do espírito.
A sobrevivência na floresta tornava-se então um conjunto de saberes , valores e símbolos obtidos das plantas e animais que os cercavam.
Inúmeras tradições indígenas refletem o respeito e a força que eles acreditam (e eu também) adquirir da natureza.
E colocando isso diante de nossa realidade hoje, a única resposta que consigo encontrar é que não passamos de vítimas de nosso próprio “desenvolvimento”. E é justamente nesse ponto em que o filme Avatar se sobrepõe à nossa realidade. Para quem enxergou além de seus magníficos efeitos especiais em 3D, Avatar nos leva a uma outra dimensão. E essa dimensão é ainda maior, igualmente triste e mais do que nunca, real.
Perdemos nossa ligação com a terra em cada detalhe. Desde os sapatos que calçamos e nos impedem de sentir a terra, molhada ou seca, quente ou fria, dura ou macia, até os blocos de concreto que hoje chamamos de casa, repletos de grades e cercas elétricas. Perdemos o significado de sociedade e em seu lugar aplicamos uma economia predatória, exclusiva, que nos torna verdadeiros sociopatas, com medo de nossa própria espécie. Somos prisioneiros de nossa tecnologia e nossos sentidos encontram-se inutilizados.
Há pessoas que nunca viram uma vaca na vida, só o leite na caixinha ou o bife na mesa. Nunca presenciaram a morte, mas a temem como nunca. Nunca tiveram de abater um veado para se alimentar, apanhar folhas na mata para amenizar uma febre ou curar um ferimento. Os bichos? Só os vêem na televisão e acham que não passam de feras e seres estranhos que têm mais é de serem mortos pois são uma verdadeira ameaça às pessoas. Não entendemos suas necessidades, na verdade, tão simples: viver, reproduzir e morrer. Pontos esses essenciais no equilíbrio de todos os ciclos de vida de nosso planeta, interligados.
Tanta tecnologia, eficiência e comodidade que hoje ameaça, não apenas a nossa espécie, como toda a vida hoje existente. Não sou contra a tecnologia, entre outras coisas. Na verdade, sou contra o consumismo exarcebado, a falta de consciência das pessoas. Se os pesquisadores fizessem metade do que fazem em prol na natureza, a situação hoje não estaria tão caótica. Se as pessoas caíssem em si sobre o mal que cada caixinha plástica causa no meio-ambiente e o impacto que ela terá, consumiriam mais produtos orgânicos, optariam por empresas que recolhem suas embalagens ou que desenvolvem programas socioambientais. Aliás, todas deveriam fazer isso.
Infelizmente as pessoas só querem saber do hoje, do seu bem-estar e de seus interesses. São imediatistas e egoístas. Optamos sempre pelos meios mais cômodos, eficientes e rápidos. Não há tempo a perder. Mas a cada dia esse modelo econômico nos aponta as terríveis falhas típicas de um modelo não-sustentável.
Mas é engraçado como, na maioria das vezes, são as pessoas que tiveram um contato mais íntimo com a natureza em uma determinada parte de sua vida ou infância, aquelas a cuidar, respeitar, vestir a camisa e levantar a bandeira para as “causas verdes”. Eu fui uma delas.
E eu primo por esse contato. Se fico muito tempo na “civilização”, sinto falta do isolamento na mata. Sinto falta do barulho das folhas ao ventar, dos diferentes sons dos pássaros, do barulho da água da cachoeira e tantos outros lugares sagrados para mim que são sempre refúgios para reflexão e renovação. O verde me faz bem.
Tenho minha casa, minha geladeira, meus móveis, mas nem por isso deixo de pensar nela e meu impacto sobre ela, todos as dias. Reciclo todo o meu lixo, só vai para a terra o que é orgânico. Vou tomar banho ou escovar os dentes? Desligo o chuveiro e a torneira enquanto não estou utilizando a água. São tão simples mas tão sérias e importantes essas pequenas attitudes que tomamos nosso dia-a-dia que quando vejo alguém jogando um papel no chão ou embalagens sintéticas no lixo tenho vontade literalmente de chorar.
Não sou muito, mas queria ser menos prisioneira ainda dessas comodidades. Mas acredito no meu papel na sociedade, no que posso mudar, no que posso ajudar. E para isso, atualmente passo mais tempo dentro dela do que na mata, que tanto amo e que me faz sentir em casa. Acredito na importância de possibilitar às pessoas um contato mais íntimo com a natureza. Talvez assim elas enxerguem a sua força, beleza e ao mesmo tempo fragilidade, frente a toda a destruição que trazemos para o meio-ambiente.
Acredito no poder da conscientização, dos projetos socioambientais. Precisamos resgatar nosso elo perdido com a natureza. Porque para mim, só retornando à ela é que encontraremos nossa salvação.
O filme me trouxe saudade de sentimentos e sensações o tempo todo. Quem carrega esse carinho e respeito pela natureza deve ter sentido o mesmo que eu. Porque quando uma árvore caiu em Avatar, pensei em todas as árvores que vêm ao chão todos os dias no Brasil. Pensei em cada rio contaminado, cada lixo lançado ao mar, cada mata queimada, cada ser vivo que desaparece dessa terra a cada segundo por nossas mãos ignorantes. Dizimamos espécies que sequer chegamos a conhecer, vitais para o equilíbrio do ecossistema.
Espero que toda a tecnologia utilizada nesse filme e que possibilitou resgatar a magia e a beleza da natureza, traga a muitas pessoas um momento de reflexão. Reflexão, atitude e mudanças.
E quanto a essa liberdade de que tanto sinto falta, sem ao menos tê-la vivenciado, tenho certeza de que um dia a resgatarei. E quando esse dia chegar, retornarei à minha terra e serei novamente, parte dela. A partir de então, serei livre, livre como sempre sonhei.
Mas enquanto esse dia não chega e enquanto me for permitido em vida, continuarei lutando, atrelada aos meus príncipios, objetivos e principalmente, meus sonhos.
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